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Recombinação de PCV2 - Um novo desafio para os programas de controlo de circovírus

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Kevin Shulz - National Hog Farmer Artigo traduzido e adaptado de: Recombinant PCV2 adds new wrinkle to control programs - National Hog Farmer Copyright Farm Progress/Informa

O circovírus porcino (PCV) tornou-se num vírus comum na população suína mundial desde que foi descrito pela primeira vez em 1974.
No final da década de 90, surgiu na América do Norte um novo circovírus geneticamente diferente daquilo que era conhecido até ao momento como PCV.
> O PCV original denominou-se PCV tipo 1 enquanto que o PCV emergente denominou-se PCV tipo 2.

Segundo o Departamento de Diagnóstico Veterinário da Universidade Estatal de Iowa, o aparecimento do PCV2 coincidiu com a aparição de um novo síndrome clínico dos suínos denominado Síndrome Multissistémico de Emagrecimento Pós-desmame (PMWS - do inglês, Postweaning Multisystemic Wasting Syndrome).

Desde a sua aparição, o PCV2 disseminou-se amplamente nas indústrias suínas mais avançadas de todo o mundo.
> O termo PCVAD (Porcine Circovirus-Associated Disease) é utilizado actualmente na América do Norte para se referir às diferentes manifestações das doenças associadas a PCV2.

Darin Madson, anteriormente no Laboratório de Diagnóstico Veterinário de ISU, referiu durante um webinar da National Hog Farmer sobre PCV2 que o vírus foi encontrado no Canadá na década de 90, mas não se definiu realmente até 1999. 'Foi então quando se observou em toda a América do Norte que estava associado à doença. Por volta de 1999-2000, compreendeu-se que o PCV2 causava doença.' 

Madson continuou a explicar que foi só a partir de 2005-2007 nos E.U.A., quando os laboratórios de diagnóstico evidenciaram os anos de elevada incidência de casos, "que o vírus realmente se fortaleceu e causou muitos problemas". Ao começarem a surgir problemas com o PCV2 nos E.U.A., a situação fez com que as empresas farmacêuticas se dedicassem ao desenvolvimento de vacinas, "e nesse momento pudemos controlar o número de casos".

Meggan Bandrick, Directora Global de Investigação de Biológicos para Suínos da Zoetis

 Meggan Bandrick, Diretora Global de Investigação de Biológicos para Suínos da Zoetis

EVOLUÇÃO DO PCV2

Falámos com a Dra. Meggan Bandrick, Diretora Global de Investigação de Biológicos para Suínos da Zoetis, que alerta o sector suinícola sobre o novo rumo que o PCV2 está a dar ao panorama sanitário.

A suinicultura tem visto evoluir os vírus ao longo do tempo e o PCV2 não é exceção. Até agora foram identificadas as variantes de PCV2 a, b, c, d, e e f.

A Dra. Bandrick acredita que não se conhece de todo o alcance da recombinação de PCV2 no campo. "A recombinação consiste no intercâmbio de material genético entre organismos - neste caso, vírus - que infectem a mesma célula. No caso do PCV2, a recombinação pode produzir-se entre vírus PCV2 muito parecidos ou muito diferentes.
Vamos dar o exemplo de PCV2a e PCV2b: O vírus resultante desta recombinação será uma mistura de PCV2a e PCV2b ao conter fragmentos de ambos."

O PROBLEMA DA RECOMBINAÇÃO DE DUAS VARIANTES DE PCV2


Então porque é que é preocupante que duas variantes de PCV2 se repliquem e formem uma nova versão de si mesmas dentro de uma célula suína?

A Dra. Bandrick assinala que "alguns desses vírus recombinantes atuarão de forma similar ao vírus parental e nem se saberá que existe um vírus recombinante presente. O vírus recombinante poderia provocar o mesmo tipo de sinais clínicos que o vírus original. Assim que, de facto, seriam muito parecidos e não causariam nenhum problema diferente."

Claro, tem de haver um "mas".

"Em alguns casos, os vírus recombinantes são na realidade bastante diferentes de qualquer um dos seus progenitores. Ter uma parte do genoma de um dos pais e outra parte do genoma do outro pode fazer com que esse vírus recombinante seja mais resistente, tenha melhor capacidade de replicação ou de causar doença ou tenha maior capacidade para escapar à resposta imunitária", afirma.

"Pensemos na vacinação. Se se está a vacinar para proteger frente a um dos vírus parentais e o vírus recombinante herdou parte de um vírus diferente, isso dá-lhe uma vantagem sobre os seus progenitores. Essa vantagem pode fazer com que seja mais capaz de se escapar à resposta imunitária." 

Esta capacidade de escapar à resposta imunitária é o que mais preocupa a Dra. Bandrick.

A RECOMBINAÇÃO NÃO É ALGO NOVO

A recombinação não é algo novo no mundo dos vírus, já que o vírus da Síndrome Reprodutiva e Respiratória Suína e muitos outros têm demonstrado a sua capacidade de recombinar, ainda que nem todos os vírus o façam.

A Dra. Bandrick explica que o vírus da gripe (ou Influenza), por exemplo, devido ao seu diferente tipo de genoma, "não se recombina realmente, mas compartilha uma sequência genética de forma diferente. E isso é a reordenação. A recombinação não é um fenómeno novo para o PCV2 mas sim algo que tem vindo a ocorrer ao longo do tempo.
Os vírus recombinantes têm estado nos suínos durante muito tempo e, de facto, a maioria estão vacinados para PCV2."

Ainda que as vacinas tenham sido eficazes contra os sinais clínicos causados pelo PCV2, Bandrick afirma que o facto de que o vírus continue a estar presente em todas as explorações suínas poderia ser atribuído em parte aos vírus recombinantes.
> Os resultados dos estudos mostram que cerca de 30% dos vírus de PCV2 são recombinantes, "e sabemos que alguns vírus recombinantes podem causar doença".

"O problema é que é difícil identificar os vírus recombinantes porque para tal é necessário examinar a sequência genética, algo bastante limitado na prática.
Um produtor, por exemplo, não tem forma de saber se um vírus é recombinante ou não. Poderia enviar amostras a um laboratório de diagnóstico que o informaria que foi encontrado um PCV2a, um PCV2b ou um PCV2d, mas o laboratório não poderia identificar um vírus recombinante.


A IMPORTÂNCIA DA CONSCIENCIALIZAÇÃO SOBRE PCV2

Segundo aponta a Dra. Bandrick, existem relatórios sobre vírus recombinantes que causam doença:
"É provável que esses casos sejam conhecidos por nós porque foram sérios o suficiente para serem publicados. Embora seja importante saber que se trata de vírus recombinantes, não temos informação suficiente para saber se todos os casos de doença por PCV2 são causados por vírus recombinantes ou não."

Ainda que os veterinários e os produtores estejam conscientes de que a recombinação acontece, a maior parte dos trabalhos sobre os recombinantes realiza-se atualmente a nível académico.

"Sem dúvida que os veterinários e os produtores são conscientes de que a recombinação ocorre no caso do vírus da PRRS e sabemos que o reordenamento, mas não recombinação, acontece no caso do vírus da gripe. Mas no que se refere a PCV2, acredito que não seja totalmente conhecido que se possa recombinar, nem que haja uma verdadeira consciência de quão diverso é ou do quanto muda.
Eu diria que a taxa de evolução de PCV2 é realmente mais alta do que jamais pensaríamos que seria.
" afirma.

Por este motivo, a Dra. Bandrick confirma que há mais variabilidade nos vírus de PCV2 do que se pensava.

"Uma das razões é que tem uma taxa de mutação realmente elevada. Mas a outra razão pela qual vemos toda esta variabilidade é a capacidade de recombinação do PCV2."
> Os vírus dos genótipos PCV2 a, b e d são os mais frequentes, portanto a maioria dos recombinantes que se observam são combinações de a, b e d.

A IMPORTÂNCIA DE CONHECER O VÍRUS PCV2

A Dra. Bandrick aponta que os produtores e os veterinários devem saber que vírus PCV2 está a circular na exploração, se é o genótipo a, b ou d, "e também avaliar a idade afetada e os sinais clínicos que se observam, para poder rever o seu programa de vacinação".

"Se tem problemas que não consegue controlar pode valer a pena realizar uma sequenciação adicional. Se esta revela que existe mais do que um tipo de PCV2, é provável que também existam na exploração vírus recombinantes."

Em qualquer caso, se numa exploração se encontra um vírus recombinante, a melhor forma de se proteger é através de um programa de vacinação.

"A melhor maneira de estar preparado para o PCV2, e para as mudanças genéticas que sabemos que virão, é vacinando. Vacinar com algo que ofereça a mais ampla cobertura contra a grande variabilidade que existe entre os PCV2. Portanto, algo que ensine o sistema imunitário de maneira a que o suíno possa estar protegido contra uma variedade de PCV2, utilizando uma vacina que permita que menos vírus PCV2 escapem à resposta imunitária."

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